segunda-feira, 19 de abril de 2010

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Capitulo II

Pouco antes


Pouco antes do sol nascer em uma dessas manhãs que nunca fazem a menor diferença, dessas manhãs onde o sol majestoso se impõe e propaga pelo espaço escuro a sua luz, inicialmente tênue e depois tão forte que se torna dia. Nessa manhã qualquer em que eu acordei mais uma vez ao som dos carros que passavam pela rua bem a porta de minha casa, quase entrando pelo quarto, tudo terminou de maneira trágica e inevitável.
O barraco onde moro na invasão do Porto Dantas fica quase em cima da pista, de forma que naquela área, durante um bom tempo, as mortes por atropelamento eram quase que diárias e ninguém parecia se importar, afinal a favela começou ali por conta própria.
- Invadiu o mangue e agora quer direitos?
Nosso pequeno universo parecia ter vida ou ser uma personagem animada, dotada de sentimentos e emoções, a favela, essa terrível “vilã” de novela das oito simplesmente havia mais uma vez entrado onde não devia e feito mais uma vítima, o Porto Dantas.
Não que isso seja desculpa para qualquer coisa, mas é incrível como um mar de gente com tantas opiniões diferentes, tantas ideias e tantos sonhos, de repente é resumido de maneira simples a um ser privilegiado de uma capacidade resumida e de atitudes singulares. Somos simplesmente A FAVELA.
Pois bem.
Eu acordei pouco antes dos primeiros raios de luz tocarem o continente, antes que andar nas ruas se tornasse outra vez seguro. Não havia qualquer motivo para aquela insônia repentina, é certo que poderia dormir o quanto quisesse naquele dia, um belo domingo de janeiro, mas por alguma razão não consegui permanecer deitado.
Na rua o silêncio já havia desaparecido, apagado pelo som dos ônibus e carros que passavam pela avenida e que muitas vezes buzinavam ou freavam bruscamente ao se aproximarem uns dos outros ou de alguma das várias lombadas distribuídas ao longo do manto negro de asfalto recém colocado.
Há alguns dias minha vida havia dado uma guinada muito violenta e eu ainda me adaptava com a nova realidade. Tudo que um dia eu jurei não fazer agora era a mais presente realidade e eu simplesmente não sabia como sair dela.
Por pura loucura ou desespero, em meio à falta de fé eu havia decidido entrar para o mundo das drogas como avião, a fim de conseguir dinheiro o suficiente para ajudar a minha irmã a fazer um tratamento médico. Ela que era apenas um bebê quando nossa mãe morreu havia descoberto um câncer de mama e precisaria de dinheiro para ter alguma chance.
O sentimento de culpa se misturava com um orgulho mesquinho que me levava a sentir-me bem, não por estar salvando a minha irmã, mas por parecer um homem bom, alguém que está disposto a tudo pela família. Ao mesmo tempo o medo das consequências daquele ato me faziam gelar e lembrar de minha mãe agonizando em meus braços, pedindo perdão a Deus ao saber que iria encontrá-lo em breve.
Coloquei a cabeça para fora e vi ao longe alguns amigos sentados em frente a um supermercado abandonado, fumando e rindo, talvez há pouco tempo, talvez a noite toda. Mas isso não fazia diferença, dali há alguns instantes eles iam me chamar e me dar uma nova missão, simplesmente por que eu havia decidido ser mensageiro da morte.
Voltei para a segurança das portas de madeira podre que selavam a minha casa, tomei um banho e fui ao encontro dos amigos de infância que agora eram meus patrões e que a cada missão que me davam faziam- me chegar mais perto de ajudar a minha irmã e encher meu ego.
Minha tarefa era levar um pacote a uma comunidade vizinha que pertencia a um outro município, mas que para alcançá-la bastava atravessar a ponte que liga Aracaju a Nossa Senhora do Socorro.
Fui com medo do que poderia me acontecer em mais um missão suicida que me era dada, na esperança de que tudo transcorresse em paz e eu pudesse voltar outra vez à minha favela.
Acontece, que nem tudo o que queremos acontece e justo naquele dia, naquela hora, a polícia havia montado uma tocaia para pegar o fornecedor de drogas dali e eu, como representante oficial do mesmo não tinha como disfarçar o que levava em minhas mãos.
Foi tudo muito rápido, os sons, os gritos, a correria e o alvoroço entre a multidão que pouco sabia o que se passava e que na sua maioria era apenas de jovens indo à praia aproveitar os raios de sol do domingo.
Foi tudo muito rápido, os tiros, o medo, eu no chão.
Não entendi muito bem o que havia acontecido, mas sentia meu pescoço queimar e a respiração ficar difícil. Senti minha mão que apertava o local dolorido ficar molhada, senti o cheiro do meu sangue que escorria e molhava a rua de piçarra.
O tiro havia atingido o meu pescoço e dilacerado à horta. Com o ferimento fiquei impossibilitado de falar, mas ouvia tudo, inclusive quando um dos policiais comentou após me olhar longamente:
- Esse ai nem se preocupe. Aí tem no máximo vinte minutos pra pedir perdão a Deus pelos pecados.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Mural Poético

A dor de lembrar

Escrevo – ti para lembrar!
Sim sei! Tenho plena consciência
de que esta humilde declaração
jamais será reconhecida,
ou pelo menos creio eu.

Saudade por que insiste?
Sim sei! Tenho plena consciência
de que é bom recordar,
mesmo que provoque a dor.

Saudade! agora já não sei mais!
Se me provoca a dor,
por que insisto em lembrar?
Porque talvez essa dor seja agradável.

Saudade posso te dizer de quem falo,
falo da minha professora das coisas da vida!
Virtude , honra , caráter...
Tenho uma dívida eterna saudade!!
É saudade ! lembro dela.

Max Dantas