terça-feira, 16 de março de 2010

Capítulo I

A HISTÓRIA


O calor da montanha ressequida pelo sol parece agora não fazer diferença, o próprio sol se mantém inerte e intocado, quase como se quisesse permanecer incógnito mesmo em meio à constante emissão de luz.
Imerso nesse cenário de uma beleza paralisante o pobre homem ainda descia os degraus levando em suas costas a pouca lenha que havia encontrado na pequena mata que ficava no topo daquela montanha isolada e livre de intrusos.
Era assim que eu sonhava um dia poder contar o fim de minha história. Velho, cansado, mas feliz por ter conseguido a proeza de viver mais do que esperava, chegando ao ponto de estar sozinho em meio a natureza harmoniosa e equilibrada que sempre povoou as minhas fantasias.
Acontece que mesmo o começo de minha história não foi tão romântico nem tão poético quanto as fantasias desejam.
Tudo começa em 1986, no estado de Sergipe, em algum lugar no meio de tanta gente e ao mesmo tempo entre ninguém, uma menina de 14 anos, jovem e inocente conheceu um rapaz de 18 que de inocente não tinha nada.
Pra quem acredita em um amor perfeito esses fatos talvez sirvam apenas para desencorajar um ato de pura precipitação e inexperiência. Uma menina de 14 anos que se apaixona perdidamente por um rapaz de 18 que não tem nenhuma perspectiva nem o mínimo senso de compromisso, pode até sonhar que vai ser feliz para sempre, mas não vai.
Eu sei o dia exato em que fui concebido, e não é por que minha mãe um dia sentou comigo e me contou quando finalmente ela se entregou de corpo e alma ao homem que amava perdidamente e como conseqüência desse ato de entrega eu vim ao mundo, não. Eu sei o dia em que fui concebido por que naquele dia a jovem de apenas 14 anos chegava em casa quando encontrou com o namorado que havia bebido demais após um jogo de futebol e tentou convencê-la a ir para a cama com ele, mas ela não quis.
A bebida ou apenas o mais puro instinto humano de perversão se apoderou do rapaz que sendo mais forte a levou para dentro do barraco onde ela morava com uma violência fora do comum. Ela não gritou, mas pedia por favor que a soltasse pois estava machucando-a.
Os pais da garota vendiam verduras em uma feira na cidade vizinha e justo naquele dia haviam viajado antes do sol se pôr para trabalhar durante a madrugada e o dia seguinte, por isso a pobre adolescente estava sozinha.
O rapaz a levou para o quarto e arrancou sua roupa, deixando-a completamente nua, exposta aos desejos animais que afloravam em meio as transpirações embebidas em álcool e uréia. Com muita força ela foi jogada na cama e enquanto tentava pedir ajuda era espancada pelo homem que tanto amava.
Ele a beijava com luxúria e tocava sua intimidade sem se preocupar com as sensações que causava, ou se aqueles toques de dedos calejados a machucavam. O que importava naquele momento era apenas satisfazer a fera que o rapaz escondia e que queria aflorar.
O jovem usou uma das mãos para imobilizar a menina enquanto com a outra tirava da calça seu membro já rijo e pronto para adentrar a estreita passagem que a garota com tanto pudor reservava para seu amante eterno.
Os pedidos de socorro, agora altos, eram ouvidos ao longe, mas ninguém parecia estar preocupado com o que ocorria naquele barraco de madeira e lona, mais um em meio a tantos outros onde a morte e a violência se abrigavam.
Ele a penetrou de forma drástica, rompendo assim todos os obstáculos e indo cada vez mais fundo no corpo da jovem que entre o sangue arrancado do seu órgão e as lagrimas que rolam pelo seu rosto desmaiou antes de sentir jorrar dentro de si a máxima expressão do prazer alcançado pelo seu carrasco, que após usar várias vezes o corpo vencido da menina a deixou, suja do seu gozo e com a alma morta.
Eu sei o dia em que fui concebido, por que com oito anos achei um atestado do legista que falava de uma jovem pura e sem malicia que fora brutalmente molestada por um homem que a deixou marginalizada em meio a uma sociedade que condena quem foi vitima e promove os criminosos.
Aquela menina de 14 anos, agora grávida de seu algoz foi expulsa de casa como uma desvirtuada e condenada a usar seu corpo já violentado para ganhar dinheiro e sobreviver.
Eu nasci assim, sujo pelo passado que me incriminava antes que eu pudesse ver a luz, destinado a pobreza e fadado a ver minha mãe morrendo em meus braços depois de ser mais uma vez estuprada e espancada por um de seus clientes alcoólatras.
Estamos em 2010, ano de eleição e definição no futuro do país, eu tenho hoje 23 anos, quase 24 e essa... é a minha história.

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