quarta-feira, 12 de maio de 2010

Capítulo IV

19 Minutos



Enquanto a minha irmã corria em busca de esperança, ou pelo menos de noticia, eu continuava a minha luta particular pelo ar, por mais um minuto que fosse, pela vida.
É muito dificil descrever o medo e a agonia que a cada segundo se apoderavam não só de minha mente, se refletindo em meu coração que batia cada vez mais rápido e descompassado, mas também dos meus membros contraídos e meus dentes cravados uns nos outros quase se quebrando.
Na plateia que de perto acompanhava o espetaculo macabro da minha agonia, muitos aplaudiam outros apenas vindo olhar o que estava acontecendo para matar a curiosidade e poder comentar na escola ou no trabalho que viu alguem morrendo no meio da rua imerso em uma poça de sangue.
A minha mente tentava de todas as formas encontrar algum consolo em esperar que alguem ali fosse se compadecer de mim e pedir socorro, alguem que demonstrasse mais humanidade do que eu estava acostumado a ver. Ninguém.
Minha morte parecia ser apenas mais uma entre tantas outras, um homem qualquer que havia encontrado seu fatídico fim em um domingo de verão.
Doi ainda mais saber que em quando eu tinha 12 anos era um desses que apenas assistem a morte. Ao voltar da escola me deparei com um homem que, da mesma forma que eu, havia sido baleado pela policia e se contorcia de dor, desesperado pela própria impotência e fadado a morrer ao vivo no jorna do estado.
Agora eu entendo o que aquele homem passou até o último instante de vida, até seu coração desistir de lutar bravamente e parar de bombear o sangue para fora do seu corpo moribundo e danificado permanentemente.
Quem eu poderia julgar agora por não me dar ajuda? Se eu mesmo quando tive a oportunidade apenas olhei, cuspi e segui meu caminha sem ao menos pedir a Deus pidade àquela alma sofredora, bandido ou não aquele ser humano naquele momento sentia dor e enfrentava seu destino final, mas eu não o ajudei.
Olhei levemente para o lado com o canto do olho e vi, um pouco fora de foco, mas nítido o suficiente para identificar o rosto de um garoto, doze anos, exatamente como eu que me olhava com uma expressão de desdém e crítica, me julgando sem saber que também iria ser julgado.
Meus ouvidos buscavam em meio aos ruídos algum sinal de esperança, talves o grito de alguém disposto a prestar socorro, talvez uma ambulância a caminho, talvez as trombetas dos anjos vindo me buscar finalmente, mas não ouvia nada além do murmurio complexo e inseparável das muitas vozes que falavam ao mesmo tempo sem a menor organização.
Algumas meninas aproveitavam a distração das mães para se juntarem em pequenos grupos e contarem umas as outras as ultimas experiências que haviam tido com o sexo oposto. Nada muito intenso, mas o suficiente para que elas jesticulassem intensamente e rissem alto mas sem conseguir tirar de mim a principal atração do local.
Risos, brincadeiras, fofocas, tudo o que ocorria ao meu redor aparentava muito mais um circo ou um show em meio a praça, uma feira livre talvez, mas nunca, nunca alguém em sã consciência ao olhar aquela alegria, aquela euforia diria que a maior atração daquele dia era a morte de um ser humano.

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